Cenas de folia em preto e branco

Matéria publicada no caderno Ilha do jornal O Globo. Acesse o link da matéria e mais fotos, ou leia o texto na íntegra abaixo. Fui repórter do jornal entre janeiro e setembro de 2013.

fotolog ilha do governador

Nos tempos em que ainda era possível tomar banho de mar na Baía de Guanabara e que a área onde hoje existe o aeroporto do Galeão abrigava o extinto bairro de Itacolomi, existia um carnaval de fantasias de papel crepom, de famílias e amigos que saíam para brincar em grupo, e de bailes para todas as idades. Muito foi perdido com o passar dos anos, mas as antigas tradições permanecem guardadas em fotografias em preto e branco e no imaginário de Jaime Moraes, um morador do Bancários fascinado por história.

Moraes mantém na internet um fotolog com cenas antigas da Ilha do Governador, que atualiza com a colaboração de outros moradores. Ele pesquisa informações sobre as imagens e recria o passado no ambiente virtual.

O primeiro registro que encontrou sobre a folia no bairro é de 1900, em um jornal chamado “O Suburbano”, que relatava a saída às ruas de blocos carnavalescos. Ele afirma que os insulanos sempre gostaram de brincar em grupos, mas existia rivalidade entre eles:

— Esses blocos não se cruzavam. Cada um desfilava dentro do seu território, por causa do bairrismo que sempre existiu na ilha. Se juntasse um bloco da Freguesia com outro da Ribeira, dava briga.

Outra tradição do passado eram os ranchos, grupos que pareciam escolas de samba, mas tinham um ritmo mais lento. Eles desfilavam na orla e eram avaliados por uma comissão julgadora. Na Praia do Zumbi, as pessoas vestiam fantasias de papel crepom sobre a roupa de banho e coloriam a água do mar após o mergulho.

De acordo com Moraes, na metade do século passado, os carnavais de clube faziam sucesso na Ilha do Governador. Às vezes, aconteciam até quatro bailes por dia, para os adultos e para as crianças.

O passar dos anos deixou para trás os grupos de rancho, que, acabaram ou viraram escolas de samba. A praia não é mais própria para o banho, e papel crepom deixou de sustentar fantasia. Mas, em comum com os carnavais de outrora, os atuais continuam se alimentando de irreverência.

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